A farda da balconista, uma
meia-calça desgastada e um vestido que teimava em lhe acentuar somente as suas
imperfeições, deixava claro que Clarissa trabalha ali. Atlântida Variedades. Jaime
observou bem esse e outros detalhes da moça, assim que entrou no estabelecimento.
Alto, de cabelos ralos e olhar
acinzentado, era imagem fácil nas colunas sociais e entrevistas midiáticas. Não
apenas por ser um rico empresário do ramo de transportes, mas sim pelas
políticas socialistas que pregava em suas aparições. Ela o reconhecera na hora.
Clarissa, tão surpresa quanto enjoada de ver
aquela figura em sua loja, recordou algumas palavras do último discurso dele
que lera. Algo como “o bem estar social
deve ser a meta dos governantes... de que adianta uma mente pensante, com
tantas bocas passando fome no mundo... e, sim!, claro, o coletivo deve sempre
estar à frente do individual”. Ela estremecia só de lembrar.
Ele encarou-a, antes e fazer seu
pedido, e percebeu um leve lampejar em sua face. Nada anormal, julgara, afinal
as pessoas não estavam acostumadas a ver famosos comprando pilhas na rua. Era pelo bem dessas pessoas que ele lutava:
pelos fracos, que não possuíam voz, bens ou mente fértil. Pelos incapazes. Se não
nascemos todos iguais, temos que nos tornar.. em nome do bem estar social.
Era por ela que ele fazia aquilo,
por pessoas como ela.
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