27 fevereiro 2014

Eu- lírico e comentários

Tem alguns comentários inúteis que arquivo inconscientemente nas minhas gavetas mentais. Por exemplo, lembro quando tinha dez anos e minha avó me recriminou por usar uma blusa de tecido furado para ir ao clube – e isso já deve dar à vocês uma ideia do quão conservadora Dona Aurora era.

Na onda dos tais comentários, lembrei  de uma grande amiga esses dias. Estava folheando alguns dos lançamentos da Novo Conceito, e dois me chamaram a atenção por um motivo:  são escritorAs dando voz à personagens masculinos. Os livros em questão foram: Seis coisas impossíveis e Quando eu era Joe.

Carolina era metida à escritora que nem eu ainda insisto em ser, e ao ler uma fanfic de um amigo em comum comentou: “Nossa, como é estranho saber que um homem está escrevendo pensamentos de uma mulher.” Eu nunca tinha reparado nisso até o momento. E desde então nunca deixei de reparar – observem como um comentário bobo é capaz de influenciar uma vida literária inteira.

É estranho? Crescemos ouvindo dizer que homens e mulheres são bichos diferentes, que vieram de planetas diferentes, e que nunca irão se entender. Entretanto, a literatura quebra esses dogmas e paradigmas ao nos revelar que podemos ser mais iguais do que imaginamos. O eu-lírico pode ser apenas o sentimento. E sentimento, meus caros... sentimento não tem gênero, mesmo que tenha nome.

Se eu pudesse conversar com a Carolina agora, citaria exemplos como o Chico Buarque,  John Green, e tantos outros que acertadamente se apropriam do eu-lírico feminino. Ou o contrário.  Talvez ela até já não ache tão estranho assim, talvez ela mesma esteja escrevendo seus personagens masculinos em primeira-pessoa...


... mas não é tão incrível como alguns comentários... simplesmente... nos marcam? 
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Editado por Agnes Carvalho. Imagens de tema por andynwt. Tecnologia do Blogger.

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