Sabe aquele
livro que você tem em casa há séculos, e justamente por isso sempre coloca
outro e outro e outro e outro na frente? Os novos, os emprestados, os que são
seriados, os que irão ser adaptados para o cinema... OPA! Foi bem nesse quesito
que O Hobbit se encaixou nas minhas listas, e saltou na frente de uns três
volumes pelo menos.
Desde que li ‘O
Senhor dos Anéis’ prometi a mim mesma que leria toda a obra deste gênio chamado
J. R. R. Tolkien. Aliás, gênio é A palavra para descrevê-lo. Sempre admirei
essas pessoas de mentes inventivas que conseguem criar outros mundos, outras
realidades – Nárnia, Guerra dos Tronos, Harry Potter - e a Terra-Média, com seus orcs, elfos, dragões
e outros supera qualquer expectativa... que sujeito impressionante! Não li O Hobbit logo em seguida por
motivos obviamente entendidos por quem leu a trilogia dos Anéis: minha mente
pedia um break de tanta descrição. Meses depois engatei a leitura de O
Smillarion, mas o outro filho único continuava na estante.
Como muitos já
conferiram na adaptação cinematográfica do livro, O Hobbit narra as aventuras
de Bilbo Bolseiro, uma pequena e adorável criatura que vivia uma vida
confortável em sua toca no Condado. Repentinamente, um mago e mais 13 anões
estão em sua sala, comendo toda a reserva de comida do pobre hobbit, planejando
resgatar um tesouro guardado por um dragão.
Pouca coisa, não é?! O lado Bolseiro de Bilbo, caseiro e acomodado, nada
mais espera do que que aqueles estranhos saiam de sua sala e esqueçam a parte
de que ele seria o ‘ladrão’ da trupe. Mas o lado Tuk, um tanto mais aventureiro
e corajoso, fica um tanto empolgado com a possibilidade de aventuras por outras
florestas e montanhas. Meio querendo, e meio não querendo, Bilbo resolve acompanhar os anões na longa jornada.
Começa, então,
a viagem do grupo liderado por Thorin – líder dos anões - pelos caminhos desse
mundo fantástico. O que lemos não é uma simples ficção, é um relato de alguém
que parece realmente ter passado por aquilo tudo, como se fosse um velho amigo
seu lhe contando algo. Tolkien espertamente interage com o leitor em diversas
partes do livro, cativando muitos logo de cara com sua narrativa ímpar – sério,
em alguns momentos respondi as perguntas retóricas dele aos ventos! Sua costumeira
descrição extremista nos deixa informado desde os formatos dos anéis de fumaça
dos charutos até a quantidade de botões da camisa do hobbit. Aqui os
acontecimentos acontecem em uma velocidade maior que na aclamada trilogia,
porém não com menos emoção. Todas as sensações tem espaço reservado na trama e
Tolkien utiliza-se muito bem cada um deles, intercalando-os com canções e
charadas muito bem elaboradas.
Ao passo que a
leitura avançou, impossível não afirmar que Bilbo teve mais sorte do que
coragem. São tantas as situações que ele escapou por um triz - como se o
escrito estivesse tentando manter o personagem principal vivo de qualquer
forma, óhh! Maiores ainda é o número de vezes que ele, por mero acaso,
conseguiu salvar a vida dos seus companheiros. Impressionante como eles
conseguem se safar de tudo (wargs, globins, trolls), bem igual a vida real – só
que não. Mas o sujeitinho Bilbo cresce, ganha coragem e confiança em si mesmo e vira Homem com H. Claro que tudo isso tem a influência de um certo anel que ele achou ao conhecer um tal de Gollum, mas isso é história pra outros livros...
Intrigada com a
exagerada sorte de Bilbo, procurei saber mais sobre os motivos que levaram
Tolkien a escrever o livro, e descobri algo ÓBVIO: o Hobbit foi escrito para
crianças. Ashamed of myself. God, porque eu não percebi isso?! Tolkien queria
abrir as portas do mundo da fantasia para a garotada, assim como fez o seu
amigo C. S. Lewis. E eu conheço muitas
crianças que poderiam tirar algum proveito das lições de vida aprendidas pelo
Sr. Bolseiro em suas andanças. E muitas crianças-grandes também.
Para mim este
na verdade é um livro para todas as idades. Os ensinamentos ali contidos valem
mais do que qualquer tesouro guardado por um dragão. E todos deveriam
compartilhar com o hobbit a função de ladrão e guardar egoisticamente para si
algo da história. Afinal, o livro é o ponto de partida de uma história maior
ainda. De uma história... PRECIOSA!
"_ Aonde você foi, se me permite perguntar?
Disse Thorin a Gandalf
enquanto os dois cavalgavam.
_ Fui olhar à frente - disse ele.
_ E o que o trouxe de volta bem na hora?
_ O olhar para trás - disse ele."