11 novembro 2013

O roubo

             Lili Moreira Sá tinha onze anos e como a maioria das crianças, brincava de ter preferências: amigos, cores, objetos, lugares. Falando neste último, o lugar favorito dela ficava no final da rua das Pitangas, na pequena cidade de Poty, dois quarteirões após a casa de sua avó Ana.
                Ela gostava de ir naquele local especialmente no final do dia, quando Sol coloria o céu antes azul anil com tons quentes.
                No meio de tantas pessoas perambulando pelos vazios de verdes, ela gastava seu tempo com um tipo em especial: com aquelas que estavam acompanhadas por um livro. Velho, novo, bíblia ou auto-ajuda, para ela essas descrições não importavam. Costumava passar minutos, ou até mesmo horas estudando aquelas pessoas.
                Até que o Sol, que antes lhe queimava a pele, começava a esfriar. Sabia, então, que era chegada a hora de agir. E, sobretudo, que o tempo era curto.
                Posicionava-se estrategicamente, provocava propositalmente um ruído distante ou qualquer outra distração e ZAZ, roubava o livro. Saia sorrateiramente, tal como uma profissional.
             Lili fingia-se acreditar que tinha com essas pessoas um acordo velado: se as pessoas podiam usufruir sem a sua permissão do seu lugarfavoritonomundotodo, a ela era permitido, em consequência, levar as palavras delas.
                Enquanto os leitores levavam consigo, inconscientemente, uma parte de Lili e do seu lar, a garota ficava também com uma parte delas.


* Escrito no dia 26 de outubro, na oficina de escrita criativa: contos, ministrada por Katherine Funke.

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Editado por Agnes Carvalho. Imagens de tema por andynwt. Tecnologia do Blogger.

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