Lili
Moreira Sá tinha onze anos e como a maioria das crianças, brincava de ter
preferências: amigos, cores, objetos, lugares. Falando neste último, o lugar
favorito dela ficava no final da rua das Pitangas, na pequena cidade de Poty,
dois quarteirões após a casa de sua avó Ana.
Ela
gostava de ir naquele local especialmente no final do dia, quando Sol coloria o
céu antes azul anil com tons quentes.
No
meio de tantas pessoas perambulando pelos vazios de verdes, ela gastava seu
tempo com um tipo em especial: com aquelas que estavam acompanhadas por um livro.
Velho, novo, bíblia ou auto-ajuda, para ela essas descrições não importavam.
Costumava passar minutos, ou até mesmo horas estudando aquelas pessoas.
Até
que o Sol, que antes lhe queimava a pele, começava a esfriar. Sabia, então, que
era chegada a hora de agir. E, sobretudo, que o tempo era curto.
Posicionava-se
estrategicamente, provocava propositalmente um ruído distante ou qualquer outra
distração e ZAZ, roubava o livro. Saia sorrateiramente, tal como uma
profissional.
Lili
fingia-se acreditar que tinha com essas pessoas um acordo velado: se as pessoas
podiam usufruir sem a sua permissão do seu lugarfavoritonomundotodo, a ela era
permitido, em consequência, levar as palavras delas.
Enquanto
os leitores levavam consigo, inconscientemente, uma parte de Lili e do seu lar,
a garota ficava também com uma parte delas.
* Escrito no dia 26 de
outubro, na oficina de escrita criativa: contos, ministrada por Katherine
Funke.
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigada pelo seu comentário!